Parece que na vida a gente não pode errar. Temos que passar por 80 anos e não deslizar em nada. Nascidos, ali, na saída do ventre da mãe, já não podemos suspirar errado. E se não vem o choro, mais virtude dos fracos do que benesse dos sensíveis, já estará errado.
E o mundo prega aos sete ventos que “pros erros há o perdão”. Mas erre, e que seja só uma vez, e já estará condenado. Nas exceções - pouco legítimas- a benevolência de quem concede o perdão se encerra na mediocridade, pois seremos lembrados do erro e da misericórdia.
E a carga amarga de quem já nasceu errado não se alivia. Somam-se a ela as pequenas falhas diárias, os enganos sinceros, as escolhas que pareceram sensatas. E ainda há os falsos acertos, que a gente comete em nome de outros. E já no momento seguinte, quando a utilidade daquele se encerra, se transforma em desacerto.
Não se engane. No fim da vida seremos um grande borrão. Uma marca enorme de borracha num caderno qualquer. O riscado da caneta naquilo que não desejávamos escrever.
O equívoco. O ocaso. O que não é.