29 de julho de 2009

Vanuza, a experiente

Ser o filho mais novo numa casa de irmãos egoístas, é como ser a puta mais antiga do bordel: todo mundo acha a história triste, mas chegar junto mesmo, ninguém quer.

22 de julho de 2009

Miau

Eu ganhei meu primeiro gato aos 8 anos. Era uma fêmea toda rajadinha de branco, amarelo e cinza. Ela nasceu na cadeia de Itabira /MG, onde minha mãe fazia um trabalho na pastoral carcerária. Todas as terças-feiras eu saía da escola onde estudava, e na qual minha mãe também dava aulas, e ia pra cadeia com ela. Um dia eu estava lá brincando num corredor do lado de fora, quando ouvi os miados fininhos que vinha de uma das celas. Eram dois gatinhos, tinham um mês mais ou menos, e os presos estavam tomando conta, porque a mãe tinha sumido. Um casal de filhotes, um macho cinza, todo rajado de branco e a fêmea.

Foi um custo convencer minha mãe a deixar levar a gatinha. Ela aceitou cheia de ressalvas, e lá fui eu eu com a bichinha no colo, lutando pra segura-la num fusca balançando.

Chegamos em casa, soltei a gatinha, que ainda não tinha nome, e ela foi explorar o lugar. Ela se escondeu dentro do forro do fogão ( em 1988 os fogões não eram "blindados" como hoje). Depois de alguns dias já estava acostumada com o lugar, com as várias pessoas que moravam em casa, com a rotina, comigo. Ela viajava conosco. Ia para a fazenda do meu avô nas férias, se misturava aos outros gatos, mas no dia de voltar, era só chamar que ela nem pestanejava: vinha para o colo. Parecia que sabia que era hora de ir embora. Ela nunca fugiu ou sumiu por um tempo. Ficava na varanda de casa, olhando a rua, namorando gatos que ousavam subir a escada. Eu nunca tive coragem de castrá-la, e ela por outro lado nunca teve filhotes. Infelizmente eu não tenho nenhuma foto dela. A perdi quando eu tinha 14 anos. Ela morreu, e eu quem achei seu corpinho, no jardim embaixo de casa. Foi meu pimeiro bichinho.

Demorei 13 anos pra aceitar ter outro gato por companheirinho.

E na manhã de uma terça feira (coincidência?), dia 16/01/2007, estava eu na Escola de Veterinária da UFMG, adotando um outro gato, um macho, cinza todo rajado de branco (rs.). Ele já tinha três pra quatro meses de vida, e foi encontrado na mata da universidade com as costas bem machucadas. Já tinha um mês que estava sob os cuidados do Hospital Veterinário, e claro, tinha sido castrado e estudado a exaustão. Esse eu batizei logo de cara, dentro do carro: COSMO.


Ele também se escondeu, também me deixou preocupado, e me surpreendeu por já reconhecer a caixinha de areia logo de cara. Por não gostar de comida humana, só gostar de tomar água das torneiras, de jogar pecinha por pecinha de ração na água e pegar com a patinha e levar a boca, uma a uma (juro, tenho provas, inclusive). Me surpreende todos os dias, quando vai ao meu quarto pontualmente as 06h10 me acordar, de segunda a sexta (nos sábados e domingos nós não temos horário). Me surpreende por vigiar as visitas que dormem em casa, mas jamais dormir com elas. Por pedir a todos que chegam pra abrir a janela, com seu miado meloso. Por passear no jardim, mas sempre voltar na mesma hora.

Pra quem diz que gatos são traiçoeiros, que gostam da casa e não dos donos, o Cosmo já se mudou conosco tres vezes nos últimos anos. E vai pra quarta mudança no mês que vem.

Ele nunca saiu de perto da gente. E sinto que nunca vamos nos deixar.

15 de julho de 2009

Cof Cof Cof

Na semana passada eu precisei ir ao pronto socorro. Uma crise de sinusite, que óbvio, só fui descobrir mais tarde, não me deixava em paz. A dor era tamanha e a tosse tão contínua que eu parecia mais uma máquina velha a vapor que não para de fazer pof pof pof pof... Mas a questão aqui nem é essa...

É que, como milhares de brasileiros, eu pago um plano/seguro saúde privado. Teoricamente, pra não depender do SUS e ter mais agilidade quando precisar usar os serviços de um médico ou de um hospital.

Era quinta feira a noite, por volta de umas 22h00. Me dirigi ao pronto atendimento conveniado mais perto de casa, coisa de 05 minutos de carro.

Peguei uma senha: 280. O painel mostrava a 210. Esses painéis não costumam ter muita lógica. Logo chamou o 260. Pensei: "Opa, está rápido, logo vai ser a minha vez e vão me dar alguma coisa pra essa tosse."

Quando finalmente chamou a senha 280, depois de quase uma hora de espera, a atendente diz que o tempo para uma consulta de emergencia era de 03 horas. Se eu estivesse pra morrer, hoje estaria postando do além. Mas não era meu caso. Decidi ir pra outro pronto atendimento. Nessa hora eu já tinha começado a achar que de pronto, os atendimentos não tinham nada.

Fui para outro hospital, fui atendido em aproximadamente uma hora e meia, e saí com a recomendação de tomar antibiotico, corticóide, xarope, remédio pra pingar no nariz e mais um monte de outras coisas.

Dois dias depois, de licença médica em punho, eu voltei ao trabalho e escuto um dos meus colegas, que não tem plano de saúde, dizendo que levou o filho com crise de asma ao posto de saúde da prefeitura. Ele demorou uma hora lá, fez radiografia, nebulização e saiu com todos os remédios que a criança precisava. De graça. Alguns iguais aos que me foram receitados e devidamente adquiridos na Droga Raia lá perto de casa.

Parei pra refletir.

8 de julho de 2009

Do dia a dia

Eu nem bem comecei um blog e já fico séculos sem postar.
Mas não é desleixo ou desinteresse. É que as vezes a gente é conclamado a dar atenção aquelas pequenas coisas que ficamos adiando, adiando e adiando... Daí, chega uma hora em que urge a necessidade e simplesmente não podemos ignorar mais.
É uma visita a um amigo de longa data que não vemos há tempos, é tirar do armário aquela roupa que a gente não usa há séculos, visitar o túmulo de alguém querido, limpar as gavetas, deletar os arquivos velhos, gravar as fotos em dvd, levar o gato no veterinário, tirar as folhas velhas do coqueirinho, encerar o carro, empacotar as roupas de verão, reler as cartas de muitos anos atrás, rasgar algumas cartas, comprar aquele presente que ficamos devendo, jogar fora os remédios vencidos, reclamar com o síndico do barulho que as vizinhas de cima fazem, consertar a luz do banheiro, polir aquela peça de metal, passear com o sobrinho, terminar de ler um livro, começar a ler um livro, devolver o livro emprestado, deixar o gato ficar no seu colo por uma hora e não sair antes porque ele estava gostando, colocar o gato no colo por uma hora e não deixar ele sair porque você está gostando, ir num programa chato com alguém que você gosta, rezar um pouco, reorganizar a despensa, desentulhar o banheiro da empregada, desentulhar a mente...
Tem gente que consegue fazer isso em dois, três dias no máximo... Eu não. Levei umas boas duas semanas. As vezes é difícil vencer a inércia. As vezes é difícil se convencer de que essas coisas precisam ser feitas. As vezes é estourar e fazer, porque alguém que deveria ter feito não fez.
É clichê dizer que a vida tem dessas coisas. Mas querem saber?
A vida tem dessas coisas.